O Barão de Lavos foi o primeiro livro escrito em português com um protagonista queer, em 1891, mesmo que dentro duma ótica moralista de condenação (é o primeiro livro de uma série intitulada Patologia Social).
Ainda assim, é um importante registro histórico, não apenas porque insinuante literariamente, mas porque reconhece já naquele tempo a impossibilidade do protagonista ser outra coisa que não aquilo que ele sempre foi, e o quanto a homossexualidade era um comportamento onipresente na sociedade lisboeta – muitos dos julgadores do Barão tinham a sua própria folha corrida.
Enfim, é uma obra muito importante, ausente no mercado editorial brasileiro. A Bissau publica O Barão de Lavos no início de 2020.
A capa é de Inês Ramos, com foto de Wilhelm Von Gloeden, fotógrafo alemão que viveu na Itália no início do século 20, famoso por seus registros do corpo masculino. Leia abaixo um trecho.
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“A plenitude de vida, a arrogância genital, a evolução orgânica ao máximo, próprias dos 32 anos, mantinham no barão ainda fortes e dominantes as tendências naturais da virilidade. Ele tinha por enquanto junto do efebo os mesmos apetites de penetração e de posse que o homem sente de ordinário para com a mulher. Todavia, em raros momentos de vertigem, ao contacto da sua carne com aqueloutra virilidade impetuosa e fresca, percorria-lhe os músculos, fugidio, breve, um movimento efeminado; faiscava-lhe no espírito uma pregustação de prazer que tivesse por base a passividade, o abandono; entrava de supurar-lhe da vontade uma solicitação em escorço de se entregar, de ser possuído, gozado, de ser femeado em suma. O que era, a um tempo, corolário do seu temperamento, e sinal patognómico do finalizar de uma raça inútil, do agonizar de uma família que vinha assim desfazer-se, podre das últimas aberrações e das últimas baixezas, na pessoa do seu representante derradeiro”.